quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Espontaneidade


"Papai, eu casei?" foi a pergunta da garotinha ao seu pai depois de ser dama de honra num casamento em Niterói.

domingo, 17 de janeiro de 2010

EXCLUSIVO: Leonardo Boff "O ser humano é um projeto infinito"


As palavras de Leonardo Boff nos remete à própria transcendência, pois que é ele a quintessência da fraternidade. Homem, filósofo, pensador, político, todas as dimensões nele cabem. Seu discurso objetiva dar sentido às lutas humanas, levantando bandeiras de preservação ecológica e cuidados com a Mãe Terra, afinal nossa Casa.
Ele espalha esperança, como fazem os poetas. Caminha sem cessar, como fazem os viajantes. Mergulha em nossos espíritos, como fazem os que têm certeza.
Leonardo Boff é um profeta, aquele que antevê e prediz. Intelectual que merece ser lido, ouvido e aplaudido.
Na entrevista exclusiva que concedeu ao “Estação de Palavras”, Boff fala do projeto infinito que é o ser humano, da proliferação de Ong´s, de solidariedade e deixa um recado aos jovens.

EP - Diante de tantas crises por que tem passado o planeta, com índices crescentes de pobreza e exclusão social, como atender as questões de preservação ambiental e sustentabilidade num cenário caótico?

LB - Dentro do modo de produção capitalista não há solução para a crise ecológica. É premissa de toda a acumulação capitalista que se explore todos os recursos naturais, que se faça no tempo mais rápido possível e com o menor investimento que se puder, sem solidariedade para as atuais e as futuras gerações. A questão do atual sistema se resume nisso: como ganhar mais? Esta lógica é destrutiva da Terra. Devemos assumir outras premissas que impliquem respeito pelos limites dos recursos, cuidado para com todas as formas de vida, justiça planetária que permita incluir todos os seres humanos nesta única Casa Comum que temos, obedecendo a este propósito: produzir sim, mas em harmonia com a natureza e com os demais seres humanos. Se não fizermos esta virada, iremos fatalmente ao encontro do pior.

EP - Como encara a proliferação de Ong´s por todo o país? Quais são hoje os maiores desafios dentro do contexto social de violência e discriminação em que vivemos?

LB - As ONGs nasceram e nascem por causa da insuficiência de representatividade por parte dos partidos e pelo fato de que o Estado sozinho não dá conta de atender a todas as demandas de uma sociedade complexa como a nossa. Os partidos não canalizam as forças que fermentam na sociedade, apenas representam interesses, especialmente das classes poderosas. Se não resolvermos o grave problema da injustiça social que afeta grande parte da população, teremos que conviver permanentemente com a violência. A violência das ruas e das comunidades carentes das periferias ou morros é violência segunda, fruto da violência primeira que é a forma como se organizou a sociedade ao redor de privilégios e não de direitos, excluindo grande parte da população do contrato social e dos benefícios mínimos de uma sociedade humanizada com saúde, educação, moradia, trabalho e segurança. Enquanto não se fizer uma reforma agrária integral, as cidades continuarão inchando por aqueles que não aceitam mais viver miseravelmente no campo, sem terra, sem assistência e sem salários decentes.

EP - Ainda é possível que a humanidade reencontre a sacralidade e o verdadeiro sentido da da vida? A cultura da superficialidade é uma ameaça?

LB - O ser humano é um projeto infinito. Ele é devorado por duas fomes: a de pão - que é saciável - e a de beleza, de comunicação, de felicidade e de transcendência - que é insaciável. O sentido da vida se encontra no equilíbrio destas duas fomes. Ocorre que a nossa cultura é materialista, pois só se concentra no pão e seus derivados, que é a acumulação de bens materiais, sempre de forma perversa, muitos bens para poucos e poucos bens para muitos. Precisamos dar centralidade à gratuidade da vida, à amizade, à convivência fraterna, ao amor, à alegria, à busca sensata da felicidade, ao viver mais com menos. Esses valores não têm preço e não se encontram no mercado, nem nas bolsas nem nos bancos. Mas se encontram no coração, lugar das excelências, daquilo que vale a pena e nos pode fazer felizes.

EP - Sua trajetória intelectual evoluiu sempre ao lado de uma postura política firme. Pretende apoiar a senadora Marina Silva, caso seja candidata à presidência da república?

LB - Marina Silva é uma antiga amiga desde os anos 70 quando ia, durante 10 anos, todos os janeiros e julhos ao Acre para acompanhar as comunidades eclesiais de base e os povos da floresta junto com Chico Mendes, Marina Silva, Jorge e Tiao Viana e outros. Sei de sua trajetória heróica e de sua determinação de mulher amazônica, de seu compromisso pela vida, pela questão dos desmatamentos, dos climas, das florestas, dos povos humilhados. Marina Silva é uma causa. O mais importante é que a partir de agora ela irá levar para a sociedade a bandeira da ecologia, não apenas da ecologia ambiental, mas também da ecologia social que tem a ver com a superação da miséria do povo, da ecologia mental, suscitando novas mentes novos corações para enfrentarmos os desafos da atual situação global. Seguramente seu mérito será obrigar todos os partidos a assumirem a agenda ecológica, do aquecimento global e de um desenvolvimento possível dentro dos limites da Terra e dos ecossistemas. Se for candidata a apoiarei, pois ela está à altura dos atuais desafios e tem a postura certa que beneficiará nosso pais e a inteira humanidade.

EP - Qual é sua expectativa em relação aos jovens?

LB - Eu acredito que a salvação vem de baixo, dos jovens, daqueles que ainda são portadores de sonhos, daqueles que não se resignam a apenas consumir e a ser meros reprodutores do sistema perverso imperante, mas exercitam a fantasia, criam coisas novas e ensaiam um novo modo de habitar este pequeno planeta com respeito, com trabalho não destrutivo da natureza, com sentido de solidariedade universal e com amor à Terra, nossa Mãe. É por eles que passa o novo e aquilo que deve ser. E o que deve ser tem força.