"A consagração de Clarice Lispector deu-se desde o primeiro momento. Ao publicar seus livros, a autora abreviou a chegada da maturidade à literatura brasileira. Em menos de um século, nosso português verde-amarelo tinha finalmente como se justificar. Com Guimarães Rosa, seu par em importância, consolidou um cânon a que faltava até massa crítica para ser formado. No entanto, Clarice dizia escrever de ouvido, negando, a um só tempo, o posto intelectual que tentavam lhe arranjar, e a erudição como ferramenta do escritor. Um pouco mais atrás, um pouco antes, um pouco abaixo. É dos lugares inexatos que parece brotar a prosa clariciana. Áreas para as quais o pensamento não havia ainda sido orientado. Seu texto, pode-se dizer, possui uma dicção tal que ao idioma restava apenas colaborar, flexibilizando a gramática, despojando-se dos punhos castiços, para que dele se desprendesse o espírito ancestral, a razão primeira pela qual existe uma língua. "
(Texto de Adriana Lunardi, O eterno direito ao grito)
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