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Linda poesia da Viviane para enfeitar este espaço, com sensibilidade fina e apurada.
RIOS (do livro DESATO, Record, 2006)
Rios quando ainda são rios conservam vegetação nas margens.
Córregos são águas geralmente claras que correm rasas
Entre as pedras.
Algumas vezes árvores chegam a cobrir um rio por inteiro:
Suas copas vão tecendo um véu verde sobre as águas
(em geral muito limpas) que correm.
As margens de um rio são plantas e terra molhada.
Terra e água em convivência pacífica.
Que não é lama.
É terra e água. Em sua diferença.
O leito se sabe leito daquele fluxo líquido inserido no chão.
Eu poderia chorar de coisas assim.
Corre um rio de minha boca corre um rio de minhas mãos
Dos meus olhos corre um rio.
Na verdade sofro de excessos. Que me dão certo vocabulário.
Como derramar. Escorrer. Atravessar.
Tenho a impressão de que tudo vaza. Em sobras.
Tenho dificuldade em caber.
Pra caber mais derramo. Por nada derramo sem motivo.
Vou acalmar meu excesso pensei.
Ministrando doses diárias de barcos ancorados ao sol.
Rodeados por pequenos pássaros em busca de restos de peixe.
Águas se lançando sobre as pedras. E um vento que parece vivo.
Como se tivesse a intenção de às vezes fazer agrados
Em minha pele.
Meu rosto tem muita simpatia por ventos.
Reconhece certos humores próprios a vento.
Gosto de coisas que se movem.
Por isso aprecio rios e não sou tanto assim apegada a mares
E árvores.
Se bem que tenho enorme ternura por bois
Fincados no pasto como palavras no papel.
Palavras são estacas fincadas ao chão.
Pedras onde piso nessa imensa correnteza que atravesso.
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