domingo, 17 de janeiro de 2010
EXCLUSIVO: Leonardo Boff "O ser humano é um projeto infinito"
As palavras de Leonardo Boff nos remete à própria transcendência, pois que é ele a quintessência da fraternidade. Homem, filósofo, pensador, político, todas as dimensões nele cabem. Seu discurso objetiva dar sentido às lutas humanas, levantando bandeiras de preservação ecológica e cuidados com a Mãe Terra, afinal nossa Casa.
Ele espalha esperança, como fazem os poetas. Caminha sem cessar, como fazem os viajantes. Mergulha em nossos espíritos, como fazem os que têm certeza.
Leonardo Boff é um profeta, aquele que antevê e prediz. Intelectual que merece ser lido, ouvido e aplaudido.
Na entrevista exclusiva que concedeu ao “Estação de Palavras”, Boff fala do projeto infinito que é o ser humano, da proliferação de Ong´s, de solidariedade e deixa um recado aos jovens.
EP - Diante de tantas crises por que tem passado o planeta, com índices crescentes de pobreza e exclusão social, como atender as questões de preservação ambiental e sustentabilidade num cenário caótico?
LB - Dentro do modo de produção capitalista não há solução para a crise ecológica. É premissa de toda a acumulação capitalista que se explore todos os recursos naturais, que se faça no tempo mais rápido possível e com o menor investimento que se puder, sem solidariedade para as atuais e as futuras gerações. A questão do atual sistema se resume nisso: como ganhar mais? Esta lógica é destrutiva da Terra. Devemos assumir outras premissas que impliquem respeito pelos limites dos recursos, cuidado para com todas as formas de vida, justiça planetária que permita incluir todos os seres humanos nesta única Casa Comum que temos, obedecendo a este propósito: produzir sim, mas em harmonia com a natureza e com os demais seres humanos. Se não fizermos esta virada, iremos fatalmente ao encontro do pior.
EP - Como encara a proliferação de Ong´s por todo o país? Quais são hoje os maiores desafios dentro do contexto social de violência e discriminação em que vivemos?
LB - As ONGs nasceram e nascem por causa da insuficiência de representatividade por parte dos partidos e pelo fato de que o Estado sozinho não dá conta de atender a todas as demandas de uma sociedade complexa como a nossa. Os partidos não canalizam as forças que fermentam na sociedade, apenas representam interesses, especialmente das classes poderosas. Se não resolvermos o grave problema da injustiça social que afeta grande parte da população, teremos que conviver permanentemente com a violência. A violência das ruas e das comunidades carentes das periferias ou morros é violência segunda, fruto da violência primeira que é a forma como se organizou a sociedade ao redor de privilégios e não de direitos, excluindo grande parte da população do contrato social e dos benefícios mínimos de uma sociedade humanizada com saúde, educação, moradia, trabalho e segurança. Enquanto não se fizer uma reforma agrária integral, as cidades continuarão inchando por aqueles que não aceitam mais viver miseravelmente no campo, sem terra, sem assistência e sem salários decentes.
EP - Ainda é possível que a humanidade reencontre a sacralidade e o verdadeiro sentido da da vida? A cultura da superficialidade é uma ameaça?
LB - O ser humano é um projeto infinito. Ele é devorado por duas fomes: a de pão - que é saciável - e a de beleza, de comunicação, de felicidade e de transcendência - que é insaciável. O sentido da vida se encontra no equilíbrio destas duas fomes. Ocorre que a nossa cultura é materialista, pois só se concentra no pão e seus derivados, que é a acumulação de bens materiais, sempre de forma perversa, muitos bens para poucos e poucos bens para muitos. Precisamos dar centralidade à gratuidade da vida, à amizade, à convivência fraterna, ao amor, à alegria, à busca sensata da felicidade, ao viver mais com menos. Esses valores não têm preço e não se encontram no mercado, nem nas bolsas nem nos bancos. Mas se encontram no coração, lugar das excelências, daquilo que vale a pena e nos pode fazer felizes.
EP - Sua trajetória intelectual evoluiu sempre ao lado de uma postura política firme. Pretende apoiar a senadora Marina Silva, caso seja candidata à presidência da república?
LB - Marina Silva é uma antiga amiga desde os anos 70 quando ia, durante 10 anos, todos os janeiros e julhos ao Acre para acompanhar as comunidades eclesiais de base e os povos da floresta junto com Chico Mendes, Marina Silva, Jorge e Tiao Viana e outros. Sei de sua trajetória heróica e de sua determinação de mulher amazônica, de seu compromisso pela vida, pela questão dos desmatamentos, dos climas, das florestas, dos povos humilhados. Marina Silva é uma causa. O mais importante é que a partir de agora ela irá levar para a sociedade a bandeira da ecologia, não apenas da ecologia ambiental, mas também da ecologia social que tem a ver com a superação da miséria do povo, da ecologia mental, suscitando novas mentes novos corações para enfrentarmos os desafos da atual situação global. Seguramente seu mérito será obrigar todos os partidos a assumirem a agenda ecológica, do aquecimento global e de um desenvolvimento possível dentro dos limites da Terra e dos ecossistemas. Se for candidata a apoiarei, pois ela está à altura dos atuais desafios e tem a postura certa que beneficiará nosso pais e a inteira humanidade.
EP - Qual é sua expectativa em relação aos jovens?
LB - Eu acredito que a salvação vem de baixo, dos jovens, daqueles que ainda são portadores de sonhos, daqueles que não se resignam a apenas consumir e a ser meros reprodutores do sistema perverso imperante, mas exercitam a fantasia, criam coisas novas e ensaiam um novo modo de habitar este pequeno planeta com respeito, com trabalho não destrutivo da natureza, com sentido de solidariedade universal e com amor à Terra, nossa Mãe. É por eles que passa o novo e aquilo que deve ser. E o que deve ser tem força.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
Vou usar esse texto em uma prova com meus aluno de ensino médio para uma leitura reflexiva.
Achei-o muitíssimo interessante.
Pedirei para que eles escrevam para o autor, dialogando com ele.Acho que farão textos muito bons!
Achei uma ótima ideia da prof. ter usado esse texto pra frazer uma prova conosco, pois esse ele é muito bom e nos permite refletir bastante.
Leonor e Klaudia, fiquei super feliz com seus comentários. Vou passar a atualizar mais o Blog. É que tenho andado sem tempo. Atualizei meu perfil e agora vocês poderão me mandar e-mails, caso desejem. Adoraria saber onde você leciona, Leonor.
Felicidades para vocês. Obrigada novamente!!!!
Muito boa essa entrevista, ela nos faz refletir como estamos vivendo.
Olá, Ilcimar,
Como disse, o trabalho com a entrevista de Boff está sendo um sucesso. Sou professora do IFRN (antigo CEFET-RN)e estou com essa turma do ensino médio integrado (edificações). A turma é grande, muito cheia de energia e eu ensino Língua Portuguesa. Queria que eles escrevessem textos reais, para pessoas reais, a partir de situações também reais. Queria também que eles lessem, com o tempo necessário para reflexão, pesquisa etc., como forma de possibilitar-lhes a produção de um texto com autoria (de verdade). Por isso, passei a prova para casa (uma alegria!) e agora vou comentar o resultado com cada um individualmente. Quando eles fizerem as correções necessárias, vou pedir que enviem para o seu e-mail (posso?). Agora de manhã, recebi os trabalhos, que eles tiveram uma semana para produzir. Estou muito satisfeita com a receptividade deles. São jovens muito inteligentes que precisam ter oportunidades para aprenderem a pensar, e a linguagem proporciona isso, não é? Finalmente, mesmo que eles não produzam textos maravilhosos, porque isso é um processo, só o fato de terem tido acesso a um autor como Leonordo Boff, através de uma entrevista interessante como a que você fez, já valeu muito, no meu ponto de vista.
Muita paz para você e obrigada pela atenção ao meu comentário.
Leonor leolunadeprata@hotmail.com
Foi muito importante o que a professora Leonor fez,de levar a seus alunos, textos como este, que nos fazem pensar melhor sobre a sociedade em que vivemos.Principalmente ,porque ele não é um texto que como muitos,só fazem criticar o mundo atual,pelo contrário,ele 'mata a cobra e mostra o pau',ou seja,critica e mostra medidas para resolver o problema citado.
Se possível,gostaria de,como a professora pediu,enviar o texto argumentativo que fiz sobre a entrevista , para o seu e-mail,Ilcimar.
Oi, Ilcimar, vão "chover" comentários dos meus alunos essa semana! Pela avaliação que fiz, eles gostaram muito da atividade, com raríssimas exceções, que não entenderam o espírito da atividade.
Muito obrigada pela parceria em prol da educação, viu?
Um cheiro bem nordestino e muita paz para você!
Leonor.
cara ,Ilcima Abreu
Adoraria que você atualizasse seu blog, pois desde que eu li o texto sobre "o ser humano é um ser infinito" com Leonardo boff, me interessei em ler o seu blog, pois achei a entrevista muito interresante e significante para minha vida.
Até,agradeço a minha professora por ela ter mostrado essa entrevista a mim e minha turma.
Gostaria também de mandar o texto, pedido pela professora sobre esse asunto, para você. Espero que ele venha ser útil.
Agradesso a atenção.
houve um erro: maria naverdade é klaudia jessy.
Postar um comentário